Minha experiência como Coach

 

Meu interesse pelo Coaching iniciou há aproximadamente 15 anos atrás, aqui no Brasil era muito novo e pouco se falava nesse tema. Atuava na época em Recursos Humanos e notava que os executivos participavam de vários treinamentos com conteúdos excelentes, entretanto, poucos colocavam em prática os ensinamentos e técnicas aprendidas.

Como meu foco principal de atendimento eram os Gestores Executivos, notei que muitos deles evitavam aplicar as novas ferramentas e metodologias aprendidas, não por falta de interesse, mas por falta de tempo ou por não se sentirem a vontade ou confiantes em tentar. Na verdade, notei que tinham dúvidas em aplicar na prática, dessa forma nem tentavam.

Percebi, o quanto precisavam discutir junto aos profissionais especializados sobre as pessoas, para compreender os seus comportamentos e de sua equipe. Quando me deparava com esta situação, lhes propunha reflexões sobre seus relacionamentos, comportamentos e impactos, discutindo sobre os temas abordados após os treinamentos e os ajudava na aplicação das técnicas.

Sempre tive muito sucesso com esta postura e sempre era requisitada para ajudá-los e apoiá-los, observando desenvolvimento e mudança de comportamento daqueles que realmente se interessavam e se dedicavam em mudar.

Outra questão importante foi que, ao me interessar por suas dificuldades e apoiá-los, o nível de confiança e comprometimento aumentava consideravelmente. Muitos deles gostavam de discutir sobre suas decisões comigo antes de toma-las, pois durante nossas conversas apontava outras formas de se enxergar os problemas e em muitos casos a decisão era revista ou enriquecida.

O profissional executivo sente-se muito solitário nas tomadas de decisões e como a pressão é muita, é importante poder pensar e repensar sobre o tema, para se sentir mais seguro e justo em suas decisões.

Esta característica sempre me beneficiou profissionalmente e foi o que me incentivou a atuar como Consultora, Coach e Psicoterapeuta, quando decidi aprofundar-me utilizando, também, da técnica de Coaching em minha carreira.

A partir dos estudos e ao aprofundar sobre os conceitos, teoria e técnica, comecei então a praticar a técnica como é recomendada pelos mestres no assunto.  O grande desafio foi desenvolver a habilidade em estimular o outro a pensar sem dar a receita, mesmo que saiba o caminho.

Aprendi que o Coach (profissional que aplica o processo) deve respeitar o tempo e os limites do Coachee (pessoa que vivencia o processo), pois somente ele sabe o que está disposto a fazer, e o quanto. Esta é uma grande confusão que os gestores cometem, acreditam que dando a receita e o caminho a sua equipe, eles já sabem o que tem que fazer e estão prontos para a ação, contudo, se não há reflexão e entendimento de que aquele é o melhor caminho, a equipe poderá seguir as regras, contudo nem sempre estará comprometido com o que foi solicitado, pois não enxergaram este caminho como melhor, esta não foi sua decisão, este caminho lhe foi imposto.

Meta

                 

Observei que usualmente o Coachee está acostumado a receber receitas prontas, ele tem dificuldade em encontrar soluções para atingir suas metas, pois estão acomodados esperando respostas e direção, contudo, não sentem o calor do desafio e a satisfação quando atingem o resultado esperado, quando atingem.

Outro ponto importante é a necessidade de se ter uma meta a ser atingida, uma meta clara, específica, com prazo e que tenha valor para si. Por isso, a pessoa que não tem uma meta, não deve participar do Processo de Coaching, se ele não estiver envolvido até o “fio do seu cabelo” esquece, ele não deve ser considerado como Coachee.

Se ter uma meta é imprescindível para ser Coachee, pois é ela que o moverá para rever seus conceitos, crenças e valores, além de dar-lhe força e energia para conquistar bravamente seus interesses.

A meta será o ponto principal para que o Coachee esteja disponível para encontrar o melhor caminho a atingi-la, ele estará preparado para refletir, exercitar, experimentar, testar, enfrentar desafios e obstáculos, aproveitando cada momento, interpretando todo este processo como aprendizado e estímulo para conseguir o que deseja.

O Coach deve discutir exaustivamente sobre a meta desejada, visando checar se ela é realmente consistente, se há valor e se realmente é isto que se deseja, esta meta pode ser algo para sua carreira profissional alinhada aos seus desejos, uma meta para se atingir resultados da empresa ou para sua vida pessoal.

Para se chegar a meta, devemos estabelecer submetas a serem trabalhadas gradativamente, preparando o Coachee na meta triunfal. Será importante começarmos com submetas, as quais serão atingidas com maior facilidade, o processo deve considerar graus de complexidade graduais, iniciando-se por aquelas mais fáceis, assim ao se chegar nos pontos mais complicados, já passou por experiências que irão propiciar assumir maiores desafios.

Será importante identificar os indicadores comportamentais, para se checar se estes estão sendo atingidos ao longo do processo.

Plano de Ação

             

Na prática de Coaching, notei que aqueles Coachees que já tinham recursos comportamentais que o apoiavam, ou seja, por se dedicarem à leituras sobre comportamento humano ou praticavam técnicas de gestão, por terem participado de inúmeros treinamentos sobre o tema, tinham maior facilidade para elaborar Plano de Ação mais consistente e arrojado, impactando na quantidade de sessões a serem utilizadas.

Entretanto, um fato era certo, para se chegar ao plano semanal, havia muito suor durante as reflexões sobre o tema. Infelizmente essa é uma herança da educação que muitos de nós recebemos, está tudo pronto, não precisamos pensar, apenas decorar. Mudar esta chave, é imprescindível para se desenvolver novos comportamentos e obter profisssionais motivados e comprometidos por suas atividades e responsabilidades.

O exercício de encontrarmos saídas sobre quais comportamentos devem-se utilizar para se chegar a submeta exige muito do Coachee, pensar e refletir sobre os melhores passos e que estejam dispostos a realizar, pois deverão ser praticados durante a semana.

Neste momento, pode-se considerar os modelos de vida, lembrar-se dos comportamentos utilizados por seus pais, avós, tios, antigos líderes, colegas profissionais ou mitos conhecidos de nossa história.

Durante o processo de Coaching, não há como decorar algo, é preciso refletir, lembrar-se de modelos aprendidos ou em experimentar diferentes comportamentos para se chegar a meta tão almejada.

Diria que este momento do processo, que dura praticamente quase todo processo de Coaching, os Coachees exercitam literamente seu cérebro, como se estivesse praticando um exercício físico, porque é realmente “suado”. Buscar e encontrar saídas para se praticar os comportamentos os quais deverão colocar em prática, realmente é exaustivo.

Entretanto, após este exercício, o Coachee passa a exercer este processo de forma natural, podendo praticar com seus liderados esta forma de estimular o cérebro a pensar, a criar e encontrar diferentes formas de se exercer um comportamento diferente.

Na verdade o Coach também deve experimentar e exercitar esta nova forma de estimular o outro a pensar. Fazendo perguntas de diferentes formas, para que o Coachee enxergue em diferentes ângulos a mesma situação.

Quando o Coachee faz suas reflexões e acredita naquele caminho, a dedicação e satisfação é muito maior. Na semana seguinte, é muito bom ver os olhos brilhantes do Coachee pela satisfação em ter conseguido experimentar algo novo e ter sucesso.

Durante esta etapa, os desafios deverão ser crescentes para se atingir a meta final. A prática destes exercícios é que garantirá o sucesso do Coaching.

O Coach deverá acompanhar os resultados e observar a dedicação do Coachee, pois o sucesso do trabalho irá depender de ambas as partes. Caso o Coachee não se dedique, será o momento para se rever se é o Coaching mesmo que ele precisa e quer. O Coach não deve ser condescendente, pois será seu nome profissional que estará em jogo.

Obstáculos

                          

Ao completar o planejamento e executarmos o Plano de Ação semanal, deveremos considerar, o que pode dar errado ou devemos imaginar o que poderá acontecer que poderá impedir nossos planos prioritários.

Se para o Coachee brasileiro planejar é novidade, imagine planejar os possíveis obstáculos ou Plano B, ou seja, estar pronto para enfrentar possíveis obstáculos ao atingirmos nossa meta e não “morrer na praia”.

Quando inicio esta etapa da discussão, os Coachees se mostram surpresos, como assim, o que pode dar de errado ou impedir os meus planos, tenho certeza que é este o caminho?

Acredite, tudo é possível e o que não queremos é que você desista durante o processo por ocorrer situações que não saiba como administrar.

Quando analisamos os possíveis obstáculos não significa que sou pessimista ou emito energia para dar errado, muito pelo contrário, o Coach deseja muito que tenha sucesso e que nada o impeça de atingir sua meta.

Muitas vezes estamos exercitando nossos comportamentos e de repente algo ocorre de forma que não havia previsto, e a nossa resposta é paralizar, isto poderá enfraquecer a disciplina e confiança. Isso não pode acontecer!

Neste momento então, o Coach irá incentivá-lo a pensar em diversas e inimagináveis possibilidades, mas seja o que for, deveremos discutir sobre como se sair desta situação. Esse exercício é essencial para se colocar a estratégia em campo. Tenho certeza que a partir desta experiência, nunca mais esquecerá disso e sempre estará preparado.

Ao longo do processo, meus Coachees diziam, sabia que iria perguntar isso. O mais interessante é que todo aprendizado do Coachee, acaba transferindo para sua equipe, isso é muito enriquecedor e para o Coach é um orgulho imenso.

Concluindo, é essencial pensar em estratégias alternativas para se obter a execução do plano e atingimento das metas comportamentais.

Premissas

                             

Durante os processos que coordenei, enfrentei algumas premissas importantes. O processo do Coaching poderá ocorrer com pessoa física, quando o profissional procura por conta própria o seu desenvolvimento ou através de pessoa jurídica, quando a empresa entende que o profissional deverá desenvolver algumas competências para atingir novas oportunidades de carreira ou para desenvolver-se em sua posição atual.

Nesta última situação, nós enquanto Coach poderemos encontrar alguns desafios. A meta do Coaching é definida pelo Gestor do profissional a ser trabalhado ou pelo Recursos Humanos da Empresa. Diria que este momento é muito sensível, pois o Coach deverá ter muita clareza do que se espera do profissional e atuar como facilitador durante o convite ao Coachee. É recomendado que esta proposta esteja muito clara para se saber se o profissional, realmente está interessado em vivenciar este processo.

O que eu quero dizer é que se o Coachee não comprar a ideia do Coaching, este processo não terá sucesso, ou seja, este deverá estar comprometido com o processo e elaborar a meta de desenvolvimento junto ao seu Gestor ou RH.

Quando estamos coordenando um processo que o Coachee não está comprometido, nota-se pouco empenho na execução das tarefas e na reflexão dos passos estabelecidos para o seu desenvolvimento. Neste caso, é recomendado ter um conversa assertiva com o profissional e se for o caso encerrar o processo.

Existem outros casos em que o Recursos Humanos da empresa decide que o processo deverá ser contratado diretamente com o profissional a ser trabalhado. Neste caso será essencial esclarecer o que se espera dele, alías, acredito que este formato é bastante interessante, quando o Gestor contrata com clareza suas expectativas anteriormente ao início do processo junto ao Coachee.

Para a relação Coach – Coachee este formato é bastante interessante pois, desta forma o vínculo de confiança ou de aliança, será construido com maior rapidez e naturalidade.

Entretanto, é possível que o Coachee queira aproveitar e trabalhar outros temas durante o processo, assim como, temas de sua vida pessoal, por exemplo.

É importante destacar que o Processo de Coaching deve ser bastante focado, são poucos encontros para se tratar do comportamento a ser desenvolvido, não havendo tempo de se tratar de outros temas, principalmente aqueles considerados questões emocionais.

Nem todo profissional de Coaching possui formação em Psicologia e nem todos os Psicólogos têm preparo para atuar em questões emocionais, por ser foco clínico. Nestes casos, é indicado que recomende a busca de profissionais que atuem como Psicoterapeuta fora do ambiente profissional.

Claro que no ambiente profissional há questões emocionais a serem tratadas assim como estresse e outras questões relacionais, contudo a ferramenta indicada é a Psicoterapia. O Coaching é um processo que atua superficialmente nos temas emocionais.

Outra questão importante a se tratar é que o Coaching irá trabalhar em rever algumas crenças “irracionais” no aspecto profissional, estimulando o Coachee a ver as situações de forma diferente. Já me deparei com alguns Coachees preocupados com esta proposta de “mudança”.

Fui questionada por um dos Coachees que atendi, se ele mudaria sua essência, pois não era seu desejo, esclareci que o fato de ver a mesma situação por perpectivas diferentes, não irá necessariamente mudar sua essência, mas irá acrescentar em sua experiência de vida, novas possibilidades. Este Coachee por exemplo “entrou de cabeça” no processo, pois ao desenvolver as competências em desenvolvimento, poderia assumir nova função hierárquica.

Este por sua vez, foi uma grata surpresa ao longo do processo, sua dedicação foi surpreendente e ao se deparar com os desafios, a partir de questionamentos, compreendeu qual era o seu papel no processo, compartilhando sua nova forma de trabalhar com sua equipe, em pouco tempo após o processo de Coaching concluir foi promovido assumindo  novos desafios.

Um outro caso interessante que gostaria de compartilhar é a importância de se avaliar o quão preparado o profissional de Coach está, pois durante o processo, o Coachee poderá ter inúmeras reações, principalmente aqueles que estão sendo tratados a partir de solicitação de seu empregador.

O Processo de Coaching é um processo de mudança e em muitos casos, não é exatamente este processo que o profissional gostaria de trabalhar. Há muitas situações que o comportamento a ser melhorado ou desenvolvido ao ser ver, não é visto como um “problema”.

A resistência é um processo que deverá ser tratado com muito cuidado, utilizando-se de ferramentas que investigue com questões profundas a serem questionadas, apresentadas e discutidas, principalmente no que se refere aos impactos que estes causam em outras pessoas e negócios.

Enquanto o Coachee não se sensibilizar para este fim, dificilmente terá sucesso observável no Coaching.

Me deparei com um caso em que estava decidida em interromper o processo, em função da resistência do Coachee, mas antes busquei uma última alternativa, aprofundei questões referentes aos seus valores e os impactos frente à Meta do Coaching.

Durante a semana posterior, este analisou o que havíamos trabalhado e agradeceu imensamente pela nova óptica que adquiriu quando conseguiu visualizar novas oportunidades.

Na sua opinião estava muito difícil fazer as mudanças propostas, mas quando identificou os possíveis ganhos, adquiriu ainda mais motivação e energia para colocar em prática novos comportamentos.

O “jogo de cintura” e flexibilidade do Coach é primordial para o sucesso do processo. O Coach deverá ter recursos para administrar e compreender como sensibilizar o Coachee para a mudança e em momentos difícies, pois é muito melhor continuarmos no que é mais confortável.

Outro caso interessante que vivenciei foi argumentar junto a um cliente potencial a diferença entre Coaching e Psicanálise, pois a sua questão era entender como uma pessoa poderia mudar em poucos meses, se em toda sua vida fez Psicanálise e demorou anos para fazer uma mudança comportamental.

O primeiro ponto a ser compreendido neste sentido é que o Coaching não é um processo de autoconhecimento, mas de desenvolvimento de algumas competências comportamentais bastante focadas.

Na Psicanálise o paciente ainda não tem conhecimento do que quer modificar, existe todo um processo particular para se compreender estas questões, que infelizmente não tenho competência para explorar ou aprofundar o tema, entretanto este deve ser aprofundado em questões enraizadas e explicadas ao longo do processo.

O Coaching é um processo de mudança de comportamento aprendido, em algum momento você já viu, já ouviu ou já leu sobre essa possibilidade. O comportamento a ser praticado não é muita surpresa ao ser definido, basta apenas exercitar aquilo que já se fez, mas não com muita frequencia ou já viu alguém fazendo.

O fato é que o profissional que contratou o serviço de Coaching para um profissional de sua empresa, teve a grata surpresa de visualizar o desenvolvimento de algumas competências que o Coachee não possuia num período de 3 meses, pois este tinha potencial para aplicar novas práticas. Embora tenha sido um desafio, tivemos sucesso no que havíamos proposto.

Life Coaching

                  

Por outro lado o Life Coaching tem como objetivo transformar a pessoa no que ela pode ser melhor. A diferença do Coaching é que é possível trabalhar outras áreas da vida, além da profissional.

A duração deste processo é de pelo menos 1 ano, pois deve trabalhar com as 3 prioridades de vida.

É bastante interessante porque o início do processo, é um diagnóstico e a partir deste diagnóstico o Coachee se prepara para definir as 3 áreas que pretende atuar, sempre com uma meta clara e específica.

O importante é concluir este artigo reforçando que minhas experiências têm sido uma grata surpresa e que me satisfaz muito poder facilitar para que o outro encontre o seu sucesso e sua felicidade. Este processo me completa.

 

by Márcia Lopes

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